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Proposta de inclusão de Pedro Teixeira em livro de heróis causa repúdio na Amazônia

Atualizado: 22 de out.

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução

 

Projeto de lei do senador Beto Faro (PT/PA) quer homenagear bandeirante do século XVII, mas entidades e historiadores o denunciam como "matador e escravizador de indígenas".

 

Belém, PA - A proposta de incluir o nome do explorador português Pedro Teixeira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria gerou forte repúdio e mobilização entre ativistas e setores da sociedade civil na Amazônia. O Projeto de Lei n. 5.242/2025, apresentado pelo senador Beto Faro (PT/PA), reacendeu o debate sobre a memória histórica da região, confrontando a versão tradicional de "bravo explorador" com a realidade de "agente da violência colonial".

 

Pedro Teixeira, figura historicamente celebrada pela expedição que, em 1637, subiu o Rio Amazonas até Quito e retornou, consolidando as fronteiras portuguesas na região, é duramente criticado por seu papel na subjugação dos povos originários.

 

O outro lado da "conquista" 

Segundo nota de repúdio divulgada por grupos e pesquisadores, a trajetória de Teixeira é inseparável da violência. O texto de agravo destaca que a expedição do século XVII, realizada sob o pretexto de expansão territorial e domínio cristão, foi baseada em práticas sistemáticas de escravização, coerção e saque de comunidades indígenas.

 "Teixeira foi, portanto, um conquistador de terras já habitadas e um executor das ordens imperiais lusas, integrando a Amazônia a uma economia de pilhagem e submissão," afirma a nota. O explorador, ex-capitão-mor de Belém, é classificado como "matador e escravizador de indígenas".

 

Para os críticos, a exaltação de Pedro Teixeira ao "panteão da história luso-amazônica" representa o apagamento do sofrimento dos povos originários. A memória dele não simbolizaria o "nascimento da Amazônia portuguesa", mas sim o "início de um processo de extermínio e espoliação".

 

A luta pela reparação histórica

 

Os signatários da nota de repúdio defendem que confrontar o mito de Pedro Teixeira é um gesto necessário de reparação histórica. Eles pedem a rejeição do PL 5.242/2025 no Congresso, argumentando que incluir seu nome no Livro dos Heróis seria validar a lógica colonial que transformou o rio em uma "estrada de dominação".

 

"Retirar-lhe o véu heroico e revelar o matador e escravizador que foi significa devolver voz às populações silenciadas pela violência colonial," concluem os opositores, exigindo que o reconhecimento histórico na Amazônia reflita a resistência e o sofrimento indígena, e não os feitos dos colonizadores.


LEIA ABAIXO NOTA:


Nota de agravo sobre Pedro Teixeira, matador e escravizador de indígenas na Amazônia do século XVII


Nota de repúdio ao projeto de Lei n. 5.242/2025, apresentado pelo senador Beto Faro (PT/PA)

 

Pedro Teixeira, figura celebrada por séculos como herói da conquista amazônica, foi, antes de tudo, um agente da violência colonial. A trajetória que a historiografia tradicional consagrou — a do bravo explorador que, em 1637, subiu o grande rio em nome da Coroa portuguesa — oculta as marcas de sangue que essa jornada deixou sobre os povos originários da Amazônia. Sua expedição, realizada sob o pretexto de afirmar fronteiras lusas e ampliar o domínio cristão, baseou-se na coerção, no saque e na captura de indígenas.

 

A figura de Pedro Teixeira, elevada ao panteão da história luso-amazônica, representa a lógica da colonização que transformou o rio em estrada de dominação. O gesto de navegar até Quito e retornar à foz do Amazonas, muitas vezes interpretado como feito civilizatório, foi acompanhado por práticas sistemáticas de escravização e destruição de comunidades inteiras. Teixeira foi, portanto, um conquistador de terras já habitadas e um executor das ordens imperiais lusas, integrando a Amazônia a uma economia de pilhagem e submissão.

 

Pedro Teixeira não simboliza o nascimento da Amazônia portuguesa, e sim o início de um processo de extermínio e espoliação que marcou profundamente as relações entre europeus e povos da floresta. Revisitar sua memória sob o signo do agravo é reabrir a ferida colonial e reconhecer, nas águas do grande rio, o eco de uma resistência indígena que nunca cessou.


Por essas razões, os abaixo-assinados repudiam o projeto de Lei n. 5.242/2025, apresentado pelo senador Beto Faro (PT), que propõe incluir o nome de Pedro Teixeira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Confrontar o mito de Pedro Teixeira é um gesto necessário de reparação histórica. Retirar-lhe o véu heroico e revelar o matador e escravizador que foi significa devolver voz às populações silenciadas pela violência colonial.

 

Amazônia/BR, 20 de outubro de 2025.

 

Assinam essa nota

 

  • GP HINDIA (UFPA) - Grupo de Pesquisa de História Indígena e do Indigenismo na Amazônia

  • FAOR - Fórum da Amazônia Oriental

  • Associação Nacional de História/ANPUH seção Pará

  • Coletivo Feminista Marielle Vive

  • Democracia Socialista - PT/Santarém

  • Grupo de Estudos em Ecologia Histórica e Política das Bacias dos Rios Trombetas, Tapajós e Xingu

  • GTAE - Grupo de Trabalhadoras Artesãs e Extrativistas de Nova Ipixuna

  • Grupo de Estudos e pesquisa em Adolescência, Juventude e Fatores de Vulnerabilidade e Proteção

  • IACEP - Instituto Amazônico de Comunicação e Educação Popular

  • IAMAS - Instituto Amazônia Solidária

  • Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

  • Instituto EcoVida

  • Instituto Soma Brasil

  • Instituto Zé Cláudio e Maria

  • iTemnpo - Grupo de Pesquisa Interpretação do Tempo: ensino, memória, narrariva e política

  • KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço

  • Labuhta - Laboratório de História Política e do Trabalho. UFAM/PPGH.

  • Movimento Xingu Vivo para Sempre

  • Plataforma dos Movimentos Sociais por Outro Sistema Político

  • Portal Info.Revolução

  • Rede Panamazônica para a Formação e o Ensino da História (REPAMFEH)

  • Rede Confluências de Educação Popular (Belém e Ananindeua)

  • Revolução Socialista/PSOL

  • SINTSEP Belém

  • Sindicato dos trabalhadores no serviço público federal do Pará (SINTSEP-PA)

  • Unidos Pra Lutar/CSP CONLUTAS

  • CSP Conlutas

  • PSTU

  • Movimento Quilombo Raça e Classe

 

Assinaturas individuais

 

  • Prof. Dr. Jorge Eremites de Oliveira - antropólogo (UFPEL)

  • Geraldo Dias - Indigenista

  • Marco Antonio Corrêa Mota - Indigenista 

  • Mauricio Santos Matos - Servidor público estadual/ diretor do SISEMPPA.

  • Professora Lídia Cristiany Alves Assunção Borari

  • Lúcia Isabel da Conceição Silva - Psicóloga (UFPA)

  • Pátricia Alves Melo, Professora Titular do Departamento de História da UFAM e Pesquisadora do CNPq

  • Silvana Benassuly Maués de Medeiros - Professora IFPA campos Cametá


Nota em Atualização


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