A Luta dos Warao pela sobrevivência e o reconhecimento de sua cultura no Brasil
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- 18 de ago.
- 4 min de leitura
Por: Inory Kanamari* - Advogada Indígena
E-mail: adrianakanamari.adv@gmail.com
Ka tücüna naina. Saudações, leitor(a).
Hoje, escrevo com o coração cheio de emoções e lembranças, refletindo sobre o legado e a resistência de um povo que, para mim, representa muito mais do que uma história de luta: os Warao, um patrimônio vivo da humanidade. Tive o privilégio de acompanhar de perto a trajetória desse povo indígena, que, assim como tantos outros, atravessa fronteiras em busca de dignidade e sobrevivência. Nos anos de 2019 e 2021, atuei em organizações humanitárias que prestavam apoio aos refugiados venezuelanos, e foi nesse contexto que conheci os Warao. Desde aquele momento, uma conexão profunda e transformadora se formou entre nós.
Os Warao são um povo único, com uma língua, cultura e história que me encantaram profundamente. Suas tradições, suas lutas, seus saberes, e sua resiliência ecoam, para mim, como um canto ancestral que reverbera até os dias de hoje. Fui tocada por cada artesanato que produziam, por cada história contada nas rodas de conversa, por sua resistência que me lembra a minha própria experiência como indígena brasileira, muitas vezes considerada estrangeira em minha própria terra. Eu me vi nos Warao, e a dor de sua migração se tornou, de certa forma, a minha dor também.
A crise humanitária que assolou a Venezuela forçou os Warao a abandonar suas terras no delta do rio Orinoco, um lugar imerso em cultura e natureza, para buscar refúgio no Brasil. A migração de um povo indígena é sempre uma jornada de perdas e adaptações, e com os Warao não foi diferente. Eles vieram para o Brasil em busca de uma vida mais digna, mas se depararam com um novo ciclo de desafios: a falta de recursos, o preconceito, e, principalmente, a xenofobia que os isolava ainda mais.
Chegaram a Roraima e encontraram as portas fechadas, sem apoio adequado, sem acolhimento que respeitasse sua cultura. O Brasil, que se vangloria de ser uma terra multicultural, não tem reconhecido o valor dos Warao, nem sua contribuição única à diversidade humana. Os Warao são mais do que migrantes; são um povo com um legado riquíssimo, que precisa ser preservado e valorizado. Suas canoas, seus saberes ancestrais, suas pinturas e seus rituais fazem parte da humanidade como um todo, e não podem ser tratados como um simples "problema de refugiados".
A história dos Warao não é apenas uma história de sofrimento, mas também de resistência. Eles chegaram ao Brasil não apenas para fugir da fome e da violência, mas para continuar sua luta pela sobrevivência como um povo indígena, com suas tradições e identidade intactas. E é justamente essa identidade, essa riqueza cultural, que precisa ser protegida, reconhecida e celebrada. A experiência de ser Warao não é uma tragédia; é uma celebração da resistência indígena diante das adversidades.
O que os Warao exigem não é apenas assistência humanitária; eles exigem o respeito à sua cultura e aos seus direitos, como qualquer povo indígena do mundo. E é aqui que a questão se torna mais urgente: como o Brasil, está lidando com povos indígenas estrangeiros, como os Warao? A falta de uma política pública eficaz, que leve em consideração as especificidades culturais e históricas desse povo, é alarmante.
A resposta que precisamos dar a essa questão vai além da simples assistência material. O Brasil precisa compreender que os Warao são um patrimônio da humanidade, uma expressão viva da diversidade cultural e da resistência indígena. Eles não são refugiados em busca de uma nova vida; eles são um povo com um legado imenso, que merece ser reconhecido e valorizado. E o que o Brasil faz com isso? O país deve se tornar uma referência mundial em respeito aos direitos dos povos indígenas, sem distinção de origem, e se abrir para um acolhimento digno e respeitoso.
Os Warao não são um problema. Eles são uma riqueza, uma oportunidade de aprendizado para todos nós. E se olharmos com o coração aberto, poderemos ver que cada canoa que eles fazem, cada arte que criam, é um símbolo da resistência e da continuidade de um povo que, embora disperso por diferentes territórios, jamais perderá sua essência.
Eu convido você, leitor(a), a refletir sobre a importância dos Warao para o Brasil e para o mundo. Eles são mais do que migrantes; são um patrimônio cultural vivo, e devemos tratá-los com a dignidade e o respeito que merecem. O que você pensa sobre isso? Deixe sua opinião nos comentários. Vamos juntos discutir como podemos promover um futuro mais justo para todos os povos indígenas, em qualquer lugar do mundo.
Bapo ikoni. Até a próxima pauta.

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