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Brasil: Crimes digitais e violência de gênero disparam, revela Anuário 2025

Foto: vitoj / Shutterstock
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Belém, PA - O Brasil registrou em 2024 o menor patamar de mortes violentas intencionais (MVI) desde o início da série histórica em 2011, consolidando uma queda pelo quarto ano consecutivo. Foram 44.127 assassinatos, o equivalente a cinco ocorrências por hora, uma redução que coloca o país abaixo das 45 mil mortes anuais pela primeira vez no período analisado. Apesar do recuo geral na violência letal, impulsionado por uma menor conflituosidade entre facções criminosas e a migração de atividades ilícitas para o ambiente digital, o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira, 24, alerta para um avanço preocupante em crimes contra mulheres, crianças e adolescentes, além da explosão de estelionatos e fraudes virtuais.


A taxa de MVI para cada 100 mil habitantes reduziu 5,4%, chegando a 20,8, um dado que, embora positivo, ainda é quase quatro vezes superior ao índice global, de 5,8 por 100 mil habitantes, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, atribui a queda ao papel central das organizações criminosas na dinâmica da violência. "O crime organizado é o principal responsável pelos números que nós divulgamos no Anuário", afirma, destacando a influência da 'pax' entre grupos rivais e a mudança de estratégia criminosa.

Organizações criminosas e a nova dinâmica da violência
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A pesquisa reforça a tese, já abordada pelo JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO em reportagens, de que as facções têm sido as protagonistas na variação dos índices de assassinatos. A menor incidência de confrontos diretos nas ruas, que antes resultavam em picos de mortes, como os massacres em presídios de 2017, agora se manifesta em uma reconfiguração da atuação criminosa. Os homicídios e grandes assaltos a banco têm diminuído, enquanto os golpes virtuais e furtos de celular dispararam, oferecendo menor risco de prisão e maior retorno financeiro para os criminosos.


"Sem investir no combate à lavagem de dinheiro, não daremos conta do PCC e do Comando Vermelho, que são duas grandes holdings criminais que se transformam quase em consórcios, onde outras facções se agregam", pontua Lima, ressaltando que o volume de dinheiro circulando com golpes virtuais pode, inclusive, superar o da venda de cocaína. Essa sofisticação do crime organizado, com ramificações em diferentes continentes, exige das forças de segurança um investimento em inteligência e coordenação, superando o modelo de patrulhamento ostensivo.

Aumento alarmante da Violência contra mulheres e vulneráveis
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Em contraste com a queda geral dos homicídios, a violência contra grupos específicos apresentou aumento:


  • Crianças e Adolescentes: As mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes (0 a 17 anos) cresceram 3,7%, totalizando 2.356 casos. 15,7% das vítimas entre 12 e 17 anos foram mortas em decorrência de intervenção policial.


  • Feminicídios: O Anuário registrou o maior número histórico de feminicídios, com 1.492 mulheres assassinadas em 2024. As tentativas de feminicídio também cresceram 19%, somando 3.870 registros.


  • Estupros: O país contabilizou 87.545 vítimas de estupros e estupros de vulnerável, o maior número da série histórica, o que significa uma ocorrência a cada seis minutos.


  • Outras Violências contra Mulheres: Condutas como stalking (+18,2%) e violência psicológica (+6,3%) também demonstraram crescimento.


A demanda por atendimento policial em casos de violência doméstica é crescente: o número 190 recebeu 1.067.556 acionamentos em 2024, equivalente a dois chamados por minuto. Além disso, 101.656 registros de descumprimento de medidas protetivas de urgência foram notificados, um aumento de 10,8% em relação ao ano anterior, indicando que aproximadamente duas em cada dez mulheres com medidas protetivas tiveram seus direitos violados.

Explosão dos golpes virtuais e desaparecimentos
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O crime migrou significativamente para o ambiente digital. O Brasil registrou um crescimento de 7,8% nos casos de estelionato em 2024, totalizando quase 2,17 milhões de ocorrências, o equivalente a quatro por minuto. Esse fenômeno é impulsionado pelo uso massivo do Pix, aplicativos bancários e redes sociais, e especialistas alertam para o agravamento do cenário com o uso de inteligência artificial para forjar biometrias faciais e vozes. Renato Sérgio de Lima sublinha a "relação direta entre a transformação digital da sociedade e o crescimento dos golpes", apontando ainda a "cultura digital precária do brasileiro médio" e a falta de foco das polícias civis no combate a esse tipo de delito.


Outra dinâmica preocupante é o crescimento de 4,9% no número de desaparecimentos, com 44.127 casos em 2024. Lima sugere que parte desse aumento pode estar ligada à prática do crime organizado de criar "cemitérios clandestinos" para desovar corpos, exigindo uma investigação mais sofisticada.

Aumento em Estados específicos e letalidade policial

Apesar da queda nacional, quatro estados apresentaram alta nos homicídios: Ceará (+10,9%, taxa de 37,5), Maranhão (+12,1%, taxa de 30,4), Minas Gerais (+5%, taxa de 15,1), e São Paulo (+7,5%, que, mesmo com a alta, mantém a menor taxa do país, 8,2). Em todos esses estados, houve um aumento nas mortes cometidas por policiais em serviço e de folga. São Paulo, por exemplo, é um dos poucos estados onde mais de 20% das mortes violentas intencionais decorrem da ação de agentes do Estado, contra uma média nacional de 14,1%. Norte e Nordeste seguem como as regiões com as maiores taxas de homicídios (27,7 e 33,8 por 100 mil habitantes, respectivamente), e Maranguape (CE) lidera o ranking das cidades mais violentas, com 79,9 MVI por 100 mil.


O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, fonte primária dessas estatísticas, baseia-se em dados de governos estaduais, Tesouro Nacional e diversas polícias, configurando-se como uma das principais referências para o debate e a formulação de políticas públicas no setor. O estudo reforça que, embora a violência física nas ruas possa ter diminuído em alguns aspectos, "o medo, a insegurança e a força do crime organizado continuam mais altos do que nunca", exigindo uma resposta coordenada e estratégica do Estado brasileiro.


(Matéria em Atualização)


 Anuário da Segurança Pública 2025: Acesse a íntegra do relatório que detalha o panorama da violência no Brasil 

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