Lideranças Munduruku cobram ação efetiva do Governo Lula contra retorno de garimpeiros a territórios
- contatoinforevollu
- 22 de set.
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Atualizado: 24 de set.
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Belém, PA – Mais de 300 lideranças, caciques, cacicas, mulheres, jovens e crianças do povo Munduruku, do Alto Tapajós, no Pará, entregaram nesta quarta-feira, 17 de setembro, uma carta a representantes do governo federal, cobrando a continuidade das operações de retirada de garimpeiros ilegais de seu território.
A manifestação aconteceu durante a V Assembleia do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ, realizada na aldeia Caroçal Cururu, e foi motivada pelo retorno de invasores, mesmo após uma operação de desintrusão em 2024.
O documento denuncia que, após a equipe do governo responsável pela desintrusão ser retirada do local, garimpeiros voltaram à região, impulsionados pela alta do preço do ouro.
Os indígenas afirmam que a Funai está sucateada e que faltam recursos e apoio técnico para a fiscalização.
A carta detalha que as comunicações oficiais do governo sobre o fim da primeira fase da desintrusão "não refletem a realidade em terra".
Os Munduruku relatam que as invasões continuam crescendo e atingem até mesmo áreas mais preservadas, como a região do rio Cururu. Como prova, eles apresentaram fotos, vídeos, imagens de satélite e relatos de seu próprio sistema de monitoramento territorial.
Segundo o documento, o governo brasileiro já confirmou, por meio de notas técnicas, a presença de garimpo em diversos pontos, incluindo no Rio Kabitutu e no Igarapé Mutum.
Os indígenas pedem um cronograma de retomada das ações, a presença permanente de fiscalização e proteção às lideranças ameaçadas.
Eles também reivindicam planos de vida alternativos ao garimpo, que garantam segurança alimentar, hídrica e cultural.
A V Assembleia contou com a presença de secretários, diretores e coordenadores dos Ministérios dos Povos Indígenas, Meio Ambiente e Direitos Humanos, além de representantes da Funai.
A Terra Indígena Munduruku, localizada na Amazônia brasileira, possui 2,4 milhões de hectares e é lar de mais de 9,2 mil indígenas.
O movimento ainda denuncia o agravamento da insegurança alimentar, a falta de assistência médica, desnutrição infantil e casos de contaminação por mercúrio na população.
VEJA A SITUAÇÃO DENUNCIADA PELOS INDÍGENAS MUNDURUKU
Invasões persistentes: O monitoramento autônomo do grupo detectou a abertura de ramais de madeireiros e novos pontos de invasão do garimpo, com registro de dragas e devastação. O próprio governo brasileiro, com base em notas técnicas, confirmou a atividade garimpeira recente em áreas denunciadas pelos Munduruku.
Impactos sociais e de saúde: As comunidades enfrentam insegurança alimentar, falta de assistência médica, desnutrição infantil e casos de contaminação por mercúrio.
Discrepância entre discurso e realidade: Os Munduruku ressaltam que as comunicações oficiais do governo sobre a desintrusão não refletem a situação real no território. Eles solicitam um cronograma para a retomada das ações, a presença permanente de fiscalização e a proteção das lideranças que estão sob ameaça.
Leia abaixo a íntegra da carta da V Assembleia do Movimento de Resistência Munduruku Ipereğ Ayũ, realizada entre 15 e 18 de setembro de 2025, na qual o povo Munduruku cobra ações efetivas do governo para a proteção de seus territórios.
Nós, Povo Munduruku do alto e médio Tapajós, caciques, lideranças, mulheres, guerreiros e guerreiras, professores, jovens, pajés, puxadores, cantores e crianças, em torno de 300 pessoas, na aldeia Caroçal Cururu, Rio Cururu, Território Munduruku, entre os dias 15 a 18 de setembro, reunidos na V assembleia do movimento Munduruku Ipereğ Ayũ, para fortalecer nossa luta, nossa organização social e continuar a defender e lutar pelo nosso território livre de invasores.
Estivemos em nossa assembleia a presença de representantes do governo para eles sentirem o que já falamos muitas vezes, em nosso território a DESINTRUSÃO não foi vitoriosa como divulgam, o garimpo ilegal já está voltando mais fortalecido. Entregamos documento que apresenta tudo que queremos em relação a retirada dos invasores do território e iremos continuar cobrando e exigindo e apresentando para todo mundo como estamos vivendo.
Nosso movimento de resistência é quem constrói a luta a partir de nossa cultura, nosso ensinamento não vem do conhecimento do pariwat (não indígena), vem de nossa história, de nosso grande cacique Biboy e os pajés do nosso povo. Não somos como o governo, nós temos nossa própria forma de organização e a partir de nossa assembleia nossas organizações andarão juntas e seguirão nossos caminhos.
Este foi um momento de construir novas direções, de fortalecer nossos caciques, nossas organizações para seguir na luta e para fortalecer a base de nossa aliança da resistência.
ALIANÇA DA RESISTÊNCIA
FORTALECER NOSSO PROTOCOLO DE CONSULTA, TODOS TEM QUE PROTEGER NOSSO TERRITÓRIO.
ASSOCIAÇÕES DEVEM SEGUIR O CAMINHO DO MOVIMENTO MUNDURUKU IPEREG AYU.
CACIQUES TEM QUE SABER SEU PAPEL E APOIAR O MONITORAMENTO DO TERRITÓRIO.
GUERREIROS E GUERREIRAS TÊM QUE SABER SEU PAPEL, RESPEITAR A FALA DOS CACIQUES E LIDERANÇAS E APOIAR MONITORAMENTO.
UNIVERSITÁRIOS DEVEM RESPEITAR A DECISÃO DOS CACIQUES E LIDERANÇAS, NÃO PODEM DESRESPEITAR NOSSA CULTURA.
FORTALECER AS ORGANIZAÇÕES DE RESISTÊNCIA COM FORMAÇÃO PARA SEGUIREM O SEU PAPEL.
GARANTIR A PROTEÇÃO DOS LOCAIS SAGRADOS DO POVO MUNDURUKU.
FORTALECER OS JOVENS E OS COLETIVOS DE COMUNICAÇÃO E MONITORAMENTO E SUA FORMAÇÃO.
AORGANIZAÇÕES DE RESISTÊNCIA (WAKOBORUN, ARIKICO, DA’UK, POY, PARIRI, ARO, WAROREBU) NÃO PODEM ESTAR LIGADAS A PROJETOS DE VENDA DO NOSSO TERRITÓRIO.
CRIAÇÃO DOS PONTOS DE VIGILÂNCIA NOS LIMITES DO TERRITÓRIO.
CANCELAMENTO DO PROJETO DE CRÉDITO DE CARBONO (REDD+) NO TERRITÓRIO MUNDURUKU.
NÃO ACEITAR NENHUM PROJETO DO GOVERNO OU EMPRESAS QUE CAUSEM IMPACTO EM NOSSO TERRITÓRIO.
TODAS AS LIDERANÇAS, CACIQUES, ORGANIZAÇÕES, TEM COMPROMISSO DE TIRAR E NÃO PERMITIR A ENTRADA DE GARIMPO ILEGAL, TURISMO PREDATÓRIO, IGREJAS, MADEREIROS, PALMITEIROS, GRILEIROS, POLÍTICA PARTIDÁRIA, EM NOSSO TERRITÓRIO.
ORGANIZAÇÕES DA RESISTÊNCIA VÃO ESTAR JUNTAS NA LUTA PELA DEMARCAÇÃO DS TERRITÓRIOS SAWRE MUYBU E SAWRE BAPIM.
ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS E ÓRGÃOS FEDERAIS NÃO PODEM CONSTRUIR PROJETOS RELACIONADOS AO POVO MUNDURUKU SEM CONSULTA PRÉVIA, LIVRE E INFORMADA.
FORTALECER A FISCALIZAÇÃO AUTÔNOMA COM LIMPEZA ANUAL DOS LIMITES DO TERRITÓRIO E PLAQUEAMENTO DOS LIMITES TERRITORIAIS, COM PARTICIPAÇÃO DA FUNAI.
PROIBIR A COMERCIALIZAÇÃO DAS IMAGENS E GRAFISMOS MUNDURUKU POR EMPRESAS E COMERCIÁRIOS NO MUNICÍPIO DA REGIÃO.
Matéria em Atualização
Fonte: Blog do Movimento Munduruku Ipereğ Ayũ


















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