top of page

Mercúrio no Tapajós: Fiocruz confirma contaminação cinco vezes acima do limite seguro em gestantes Munduruku


Belém, PA – A Amazônia está doente — e o veneno tem nome: mercúrio. No último dia 30, em Santarém (PA), o Fórum de Combate aos Impactos da Contaminação Mercurial no Tapajós reuniu cientistas, lideranças indígenas e gestores públicos em um alerta contundente: o Brasil vive uma crise humanitária e ambiental silenciosa, e o tempo para agir está se esgotando.

Dados recentes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam que gestantes do povo indígena Munduruku apresentam níveis de mercúrio até cinco vezes superiores ao limite seguro estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A exposição começa antes mesmo do nascimento — dentro do útero — e continua após o parto, por meio da amamentação e da alimentação contaminada. O metal pesado, usado em larga escala no garimpo ilegal, circula agora no sangue de mulheres, crianças e recém-nascidos.

 

“As crianças estão expostas desde a barriga da mãe até a comida do dia a dia. O risco de danos neurológicos é irreversível”, alertou o pesquisador Paulo Basta, da Fiocruz.

 

A dor de um povo: ‘Não quero morrer de mercúrio’

 

Entre gráficos e relatórios, o Fórum deu rosto humano à tragédia. Zenilda Kumaruara, coordenadora do Conselho do Território Kumaruara, leu uma carta em nome de dez aldeias. 

“Eu não quero morrer de mercúrio”, disse, declarando-se ela própria contaminada.“Nosso povo sempre viveu da caça e da pesca. Hoje, os rios que nos alimentavam trazem doença e medo. A dragagem e o garimpo ilegal vêm destruindo nosso território e matando lentamente nossas famílias.”

O documento denuncia o aumento de abortos espontâneos, malformações congênitas e casos de câncer nas aldeias.

 

“Não é possível aceitar que paguemos com nossas vidas o preço do chamado desenvolvimento econômico”, conclui a carta.

 

Ministério Público propõe Termo de Compromisso e cobra responsabilidade


Para romper o ciclo de invisibilidade e omissão, após várias denúncias das comunidades, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou aos gestores de saúde da região um Termo de Compromisso.

 

O objetivo é fazer com que os municípios reconheçam oficialmente a gravidade da contaminação e adotem medidas concretas — desde a capacitação de profissionais até a testagem sistemática de moradores das áreas afetadas.

 

“Trata-se de um compromisso político e ético: reconhecer o cenário e agir de forma coordenada”, afirmou a procuradora da República Thaís Medeiros, coordenadora do Fórum. 

Ações imediatas:


  • Capacitação periódica das equipes de saúde;

  • Notificação compulsória dos casos de exposição ao mercúrio;

  • Designação de pontos focais técnicos;

  • Ampliação da testagem em comunidades de risco. 


O Termo será enviado a todas as prefeituras da bacia do Tapajós, acompanhado de recomendações para cursos de capacitação e integração com universidades e órgãos de pesquisa. 

Amazônia sob risco: o problema vai além do garimpo


A professora Heloísa Meneses, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), lembrou que o garimpo é apenas a ponta do iceberg.

 

“Se a gente só resolver o problema do garimpo, não resolve o problema do mercúrio”, explicou.

 

O contaminante também se espalha por meio do desmatamento, das queimadas e das hidrelétricas, que alteram o ciclo dos rios e agravam a exposição.

 

“Toda a cadeia alimentar amazônica está em risco. O mercúrio está nas águas, nos peixes e no corpo das pessoas. Estamos envenenando o futuro”, completou a pesquisadora.

 

Governo Federal anuncia plano, mas demora preocupa comunidades

 

Representando o Ministério da Saúde, Jaqueline Martins apresentou o Plano de Enfrentamento ao Mercúrio, previsto para ser lançado apenas na COP 30, em Belém.

 

O plano inclui vigilância das populações expostas, atenção integral à saúde, monitoramento laboratorial e ações educativas — mas a demora preocupa as lideranças locais. 

“É urgência, é emergência. A vida está em risco — não só dos indígenas, mas de todos os ribeirinhos”, alertou Haroldo Saw Munduruku, coordenador do Distrito de Saúde Indígena (DSEI).

Apesar das promessas, as comunidades cobram ações imediatas: testagem em massa, segurança alimentar e a proibição efetiva do garimpo ilegal.

 

Teste de fogo para o Governo Lula

 

A contaminação do povo Munduruku representa um teste decisivo para a política ambiental e de direitos humanos do Governo Lula.

 

É necessário e urgente que o governo decrete estado de emergência em saúde pública na região, inclua exames de mercúrio no Sistema Único de Saúde (SUS) e acelere a demarcação de todos os territórios indigenas.

 

Mas não apenas isso: é preciso garantir apoio integral ao Ministério Público Federal (MPF) na suspensão das licenças ilegais e assegurar transparência total nos dados de contaminação.

 

A demora em agir transforma as promessas de repressão ao garimpo em cumplicidade com o envenenamento da Amazônia.


Fonte: MPF.PA


1 comentário

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
Silvia Leticia
há 3 dias
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Boa matéria

Curtir
bottom of page