Sororidade seletiva: quando a falta de união entre mulheres exclui as mais marginalizadas do poder
- contatoinforevollu
- 29 de abr.
- 4 min de leitura

Ka tücüna naina. Frase escrita na gramática kanamari e traduzida para o português significa: Olá, leitor(a).
A presença das mulheres nos espaços de poder e liderança tem sido um tema amplamente debatido nos últimos anos, mas a realidade ainda é desafiadora. Apesar dos avanços legislativos e das conquistas sociais, as mulheres, em especial as negras, indígenas, trans, ciganas, deficientes e periféricas, continuam subrepresentadas nos principais postos de comando.
No Brasil, isso é evidente nas instituições políticas e até mesmo nos Conselhos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que, teoricamente, deveriam ser espaços inclusivos e representativos da sociedade. A falácia da sororidade, que propõe a união entre as mulheres em nome de uma causa comum, muitas vezes se mostra vazia quando confrontada com as barreiras estruturais que excluem as mais marginalizadas. O cenário global, exemplificado pela eleição de Donald Trump e a candidatura de Kamala Harris, destaca um retrocesso no empoderamento feminino, refletindo como a política mundial ainda marginaliza as mulheres. Este texto busca analisar a persistente sub-representação feminina no poder político e nas estruturas de decisão, questionando o real significado da sororidade e a verdadeira luta pela igualdade de gênero.

No Brasil, os números da política eleitoral revelam uma dura realidade sobre a representatividade feminina. Nas eleições de 2024, apenas 13% de eleitos foram mulheres. Esses dados evidenciam que, apesar de o voto feminino ser amplamente discutido, as mulheres continuam a ser minoria nos espaços de decisão. A representatividade feminina é ainda mais escassa nas esferas executivas, como no caso das governadoras e prefeitas, que também são raras. Esse cenário é um reflexo da manutenção de um sistema político ainda profundamente patriarcal, no qual as mulheres, especialmente as negras, indígenas, trans, ciganas e periféricas, enfrentam desafios imensos para acessar espaços de poder.
No contexto internacional, as eleições presidenciais americanas exemplificam a dificuldade das mulheres em alcançar posições de liderança. Kamala Harris, primeira mulher e primeira pessoa negra a ocupar o cargo de vice-presidente dos Estados Unidos, foi derrotada nas urnas quando se apresentou como candidata ao cargo mais alto. Embora sua candidatura fosse um marco para a representatividade, a eleição de Donald Trump, um homem com um histórico de discursos misóginos, racistas e xenofóbicos, demonstrou o retrocesso das mulheres nas esferas de comando. A vitória de Trump, portanto, não se limita à sua pessoa, mas reflete a resistência estrutural à ascensão das mulheres no poder, independentemente de sua cor, classe ou origem.
Esse retrocesso também é visível no Brasil, especialmente dentro das instituições que deveriam ser exemplos de inclusão, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Embora as mulheres tenham conquistado avanços significativos no campo jurídico, a representatividade feminina nos Conselhos da OAB ainda é muito baixa. As eleições internas da OAB mostram que, entre as seccionais, as mulheres continuam em minoria, e a liderança dessas seccionais é predominantemente masculina.
De acordo com dados da própria OAB, menos de 30% dos cargos de direção são ocupados por mulheres, o que é um reflexo direto das barreiras institucionais e culturais que dificultam o acesso das mulheres às posições de liderança, mesmo em um campo tradicionalmente visto como mais aberto para elas.
Além disso, a questão da sororidade, amplamente defendida nos movimentos feministas, muitas vezes se revela uma falácia quando se trata de solidariedade real entre as mulheres, especialmente aquelas que pertencem a grupos historicamente marginalizados. A resistência de algumas mulheres a outras que se destacam em espaços tradicionalmente masculinos não é uma exceção, mas uma regra. As mulheres negras, indígenas, trans, ciganas e com deficiência enfrentam uma luta dupla: contra o machismo, e contra o racismo estrutural que as coloca em uma posição de invisibilidade. Muitas vezes, essas mulheres sequer conseguem se lançar como candidatas, ou quando o fazem, enfrentam hostilidade brutal. A ausência de sororidade entre as mulheres mais privilegiadas e as marginalizadas mostra que, embora a luta pela igualdade de gênero seja um desafio coletivo, o caminho até a verdadeira inclusão é tortuoso e repleto de obstáculos internos e externos.
Em pleno século XXI, as mulheres continuam a lutar por espaços de poder e decisão, mas a realidade mostra que a verdadeira igualdade de gênero está ainda distante. No Brasil, as mulheres representam uma pequena fração nas esferas políticas e nos Conselhos da OAB, com números alarmantes que refletem a resistência estrutural ao seu protagonismo. Mesmo com o discurso de sororidade, que prega a união entre as mulheres, a solidariedade verdadeira ainda não se concretizou, especialmente entre as mulheres de diferentes classes sociais, etnias e condições físicas. A eleição de Donald Trump e a candidatura de Kamala Harris são apenas um reflexo das dificuldades enfrentadas pelas mulheres em um sistema político global que ainda prioriza a masculinidade branca e patriarcal.
O movimento feminista precisa urgentemente revisar suas estratégias e ampliar sua visão, tornando a sororidade não apenas um discurso, mas uma prática inclusiva e real, capaz de acolher e apoiar as mulheres mais marginalizadas. A luta pela igualdade de gênero deve ser uma luta coletiva e plural, em que todas as mulheres, sem exceção, possam conquistar os espaços que lhes são devidos. O momento de agir é agora. A representatividade política e a ocupação de cargos de liderança por mulheres são direitos que não podem ser mais adiados. O futuro depende de escolhas mais conscientes, que vão além das aparências e das retóricas vazias, para efetivar as transformações que a sociedade precisa.
Bapo ikoni. Até a próxima pauta.


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