COP 30 em Belém: Desenvolvimento para quem?
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- 19 de mai.
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Atualizado: 19 de mai.

E-mail: ailanybrito7@gmail.com
A proximidade da COP 30 tem acelerado a execução de grandes obras de infraestrutura em Belém, com o objetivo de preparar a cidade para receber um dos maiores eventos internacionais sobre mudanças climáticas. No entanto, o ritmo e o modelo adotado para essas intervenções urbanas levantam sérias questões sobre seus impactos sociais, ambientais e sobre o real compromisso do Estado com a sustentabilidade. Por trás da euforia institucional, pairam questionamentos urgentes: quem está sendo incluído nesse projeto de cidade? Quem está sendo silenciado em nome do progresso?
O Governo do Estado tem anunciado com orgulho obras de infraestrutura, reformas urbanas e investimentos milionários. No entanto, o que se observa é um cenário que revela contradições profundas entre o discurso oficial de sustentabilidade e as práticas concretas do governo estadual. Obras aceleradas, intervenções urbanas questionáveis e decisões políticas que desconsideram os direitos das populações tradicionais colocam em xeque o verdadeiro legado que esse evento internacional pode deixar.
De um lado, temos a Amazônia sendo anunciada como centro das atenções do mundo. De outro, vemos florestas sendo derrubadas para dar lugar à “modernização” urbana, como na construção da chamada Avenida Liberdade, que atravessa uma área de proteção ambiental com o objetivo de melhorar o fluxo viário para a COP. Que liberdade é essa que destrói a biodiversidade em nome de uma mobilidade voltada para turistas e delegações diplomáticas?
As contradições não param por aí. O mesmo governo estadual que afirma liderar políticas ambientais aprovou recentemente uma lei (revogada após forte pressão popular) que reduzia o piso salarial de professores e eliminava o ensino presencial em aldeias indígenas, substituindo-o por educação à distância. Como se pode falar em justiça climática sem garantir justiça social e educacional aos povos que historicamente preservam a floresta?
A repercussão negativa e os protestos forçaram a revogação da lei, mas deixaram evidente o distanciamento entre o discurso oficial e as políticas efetivas de inclusão e justiça social. Esses grupos, historicamente os maiores protetores da floresta, correm o risco de serem tratados como figurantes, quando deveriam ser protagonistas na formulação de políticas climáticas.
Belém está sendo remodelada às pressas para ser "apresentável" aos olhos do mundo. Mas essa maquiagem urbana esconde desigualdades gritantes, a expulsão silenciosa de famílias periféricas e o apagamento de comunidades que, em teoria, deveriam estar no centro das discussões da COP.
O que se vê é a tentativa de transformar uma conferência ambiental em uma vitrine de investimentos e negócios verdes, muitos dos quais se traduzem em lucros para grandes empreiteiras, especuladores imobiliários e corporações internacionais, Já as populações locais enfrentam o risco de ver seus modos de vida ameaçados ou apagados em nome de um progresso que nem sempre as inclui.

A valorização imobiliária acelerada, aliada à reconfiguração urbana, pode gerar processos de expulsão silenciosa, gentrificação e deslocamento forçado de famílias que vivem em áreas agora vistas como "estratégicas" para o turismo ou investimento.
Além disso, há denúncias de que as comunidades diretamente afetadas não foram devidamente consultadas sobre as mudanças em seus territórios, o que fere o direito à consulta livre, prévia e informada, previsto em tratados internacionais como a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). É preciso denunciar esse projeto de cidade que exclui para impressionar. Que planta árvores nas avenidas enquanto remove pessoas das calçadas. Que fala em carbono neutro enquanto queima o chão sagrado de comunidades tradicionais. A sustentabilidade que se impõe de cima para baixo não é sustentável, é colonizadora.
O Pará tem, sim, a oportunidade de protagonizar uma nova narrativa climática, mas para isso é preciso coragem política para romper com modelos excludentes e escutar os verdadeiros guardiões da floresta. O momento exige vigilância crítica e participação popular. A COP 30 não pode ser reduzida a um grande palco diplomático ou a uma vitrine de investimentos. As decisões tomadas agora terão impactos duradouros sobre o território amazônico e seus povos.
Portanto, se o Pará quer se apresentar ao mundo como vanguarda da luta climática, precisa adotar uma postura coerente, inclusiva e ecologicamente responsável, que não sacrifique os direitos humanos e a natureza em nome da visibilidade internacional.

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Muito bom! Concordo plenamente. É preciso desmascarar as farsas que envolvem a COP30