Deputados do Amazonas Escancaram Racismo Estrutural: Ministério Público Deve Impugnar Edital Excludente da ALEAM
- contatoinforevollu
- há 1 dia
- 3 min de leitura

Por Inory Kanamari — Advogada indígena, com atuação em defesa dos direitos dos povos originários
É quase risível, se não fosse trágico. A Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas acaba de publicar um edital que simplesmente apaga a existência de profissionais pretos e indígenas. O que está em jogo não é apenas imoralidade política, mas também o descumprimento de legislações que garantem igualdade de acesso e representatividade. Cabe, portanto, ao Ministério Público, como fiscal da lei, impugnar esse edital e impedir mais uma demonstração de exclusão institucionalizada.
A verdade nua e crua é que nenhum dos deputados que ocupam cadeiras na ALEAM tolera a inclusão de grupos historicamente minorizados. Para eles, admitir pretos e indígenas em cargos técnicos ou estratégicos seria uma afronta. Jamais aceitariam dividir seus gabinetes, seus espaços de poder ou sua estrutura de privilégios com profissionais desses grupos. A política da ALEAM, disfarçada de normalidade administrativa, nada mais é do que a continuação do genocídio contra povos indígenas e a população preta: não pelo tiro, mas pela exclusão sistemática e silenciosa.
São os mesmos deputados que, em época de campanha, correm para dentro das aldeias e quilombos, batem no peito, se dizem “representantes do povo” e imploram por votos. Mas, passada a eleição, voltamos a ser invisíveis. Pior: transformados em incômodos que precisam ser mantidos fora de qualquer estrutura que distribua poder, renda ou prestígio.
PUBLICIDADE
Falam de igualdade. Usam a palavra “diversidade” como ornamento de discurso. Mas, na prática, demonstram que a única coisa que defendem com fervor é o privilégio branco, a exclusão e a manutenção de uma política que repele corpos e vozes negras e indígenas.
Mais grave ainda é ver o presidente da ALEAM e seus pares estampando sorrisos orgulhosos nas fotos de divulgação desse edital racista, como se estivessem celebrando uma conquista. Não sentem vergonha de sua ignorância histórica, jurídica, social e cultural. Ao contrário: exibem-na como troféu de um poder que só existe porque continua a nos apagar.
A ALEAM, que deveria ser vitrine da democracia e da diversidade, virou palco de exclusão. Transformou-se em aparelho de legitimação do racismo institucional. Um espaço onde palavras como “inclusão” e “representatividade” são ocas, usadas apenas para mascarar conchavos e interesses próprios.
Enquanto isso, pretos e indígenas, que sustentam este estado em memória, cultura, território e luta política, seguem do lado de fora. Não por falta de competência, pois temos profissionais preparados em todas as áreas. Mas porque o racismo e a xenofobia ainda comandam a engrenagem da política amazonense.
Em 2026, chegará mais uma eleição. Resta saber: pretos e indígenas continuarão a emprestar sua força política a quem insiste em nos apagar? Ou finalmente compreenderemos que votar nesses deputados é entregar as chaves da nossa própria casa a quem deseja nos expulsar dela?
Esse edital não é apenas um documento administrativo. Ele é um retrato do Amazonas: um estado que se vangloria de ser “a terra mais indígena do Brasil”, mas que nega a presença de seus povos originários e de sua população preta nos espaços de decisão. Um retrato de uma política pequena, hipócrita e genocida.
Seguimos, então, invisíveis no papel e descartáveis na prática. Valiosos apenas no dia da eleição. Até quando?

Comentários